sábado, fevereiro 24, 2007

ADEUS MODERNIDADE!

"Fui poeta aos vinte, libertino aos trinta, sou vagabundo sem pátria nem crença aos quarenta...”.

(Assim se define o personagem de Álvares de Azevedo, Bertrand.)

Veja, caro leitor, nada mais abjeto, nada! Numa simples frase, a síntese daquilo que esta civilização combateu e, no entanto, nesta encontrei abrigo, talvez menos por sensibilidade e mais por caráter torto, desfigurado mesmo, como só sói a estes da minha espécie encontrar algo que lo diga de mim. Por caminhos sempre escorregadios buscamos a nós, aquilo que os magos do iluminismo nos sentenciaram, tal um sísifos: a uma busca inalcançável da identidade. Triste e inválida procura, já que nem mesmo o espelho, por que sempre oposta imagem, nos garanta este triunfo aparente do eu! Penso... Logo, nada. Mas por precaução não me aventuro a estilhaçar o que esta alta literatura, a filosofia, assim determinou e, antes que vejas, tu leitor, algum traço de soberba, me adianto dizer que disto sou incapaz ,muito mais por incapacidade inteligibilis do que por caráter..
Sim, eu me identifico eis meu momento pós-Hamlet, Sou! Sem dúvida, ainda que esta paire sempre sobre minha própria existência.
Talvez por um chiste hipócrita, ou última fagulha de honra queira explicar... plica ex plica, dobra des-dobra, eis a tarefa da ratio “cartesina”.. E invoco esta a fim de me defender.
Senhor leitor, quem não teve ilusões aos vinte, por certo hoje é monstro, mas se não tanto, quadrúpede com certeza. Só aos asnos não é dada a graça da ilusão, esta que fomentando sonhos nos torna mais palatável o existir, e a este, qual não tenho muito apreço, sempre as ùltimas palavras de Brás Cubas.
Pois fui poeta e cri que as palavras me salvariam pela acese da inspiração. Porém, mesmo embriagado desta e de outras volatilidades a carrasca existência, e isto tem ela de sábia, soube me alertar. A dor, para quem dela tira proveito, é remédio. Para os que, passada certa idade não abandonaram seus idealismos, vos aconselho: que todas as platonices possíveis os protejam e assim permaneçam! Crentes. E assim certo de minha defesa, disto não mais falarei e parto seguro para a próxima oração: libertino aos trinta!
Quem de vós não... Não, não é necessário inquirir, sei bem! Sei muito daquilo que reside em nós, aquilo que nos constitui em última instância. E antes de tudo, devo dizer salvo engano, trata-se da maior perseguição que a espécie humana já praticou: a mórbida castração do desejo!! Viu leitor? O que vos constitui, tornou-se o teu maior inimigo! Em nome de...O aparelhamento moral, instrumento desta literal carnificina que há, como sempre houve, de servir como consolo. Console-se cara leitor, por que tudo aquilo que serviu para te tolher, agora é com certeza, fundação de ocas orações com as quais batizas, dia após dia, tua ainda resistente volúpia!
Pois, hedonista fui e para o bem não aguçar aquela que esverdeia corações, a inveja, poupo-te detalhes, deixando de rastro apenas tua imaginação.
Há de ter outro sentido a vida que não o prazer? Não creio!! Mas os celerados metafísicos, engenhando a isca do nunca, houveram por bem decretar que esta vida nada valia. A esta malta das nuvens, a lembrança de Diógenes, e se o cini é distante, viva Hume, sagaz que só, desmontou aquela burocratia racionale, ela mesma, a escolástica, e foi ter nos salões das madames. Como não sou de fuxicos, declino detalhes da vida deste homem dado ao prazer que forneceu o motor de arranque para o maior filósofo do ocidente, Kant, sem o qual, a vossa modernidade estaria ainda de carroças. Mas peço: por favor, não invoque o nome daquele desvairado romântico, pajé da fenomenologia do espírito e, principalmente, doidivanas! E para finalizar, não como defesa e sim como homenagem, quiçá desfazer uma injustiça, trago o nome de Sade, aquele que no auge das "luzes" lamentava a escuridão. Pois o arrepio que causou a civilidade, acabou por vitimá-lo para a história como nomenclatura da mais alta perversão! Para clarear: este homem jamais cometeu alguma atrocidade e sua escatológica escrita apenas devolve, de outra maneira, o mesmo tom das moralices: alguém tinha que adubar o vácuo metafísico das existências assépticas.
Posto isto serei breve na, com certeza, mais profunda das orações. Também sou, delícias das delícias, um vagamundo. Acaso sabe de outro maior duradouro prazer que o ócio? Duvido! Seria bom lembrar as escondidas palavras de um dos pilares do ocidente, aquele filósofo das substâncias, para sabermos a ojeriza que este ao trabalho tinha! O ócio, já sabemos, é pai do melhor que a humanidade produziu : a filosofia, a música, artes, a boa mesa e a boa cama. A propósito, jamais verás cinqüenta mil vagabundos guerreando com outros tais. Além de pacifista, ele é ecológico! Basta! O dia em que desabar este totem da cantilena calvinista já estarei morto.
Sobre a crença, nada digo, exceto: crê meu leitor, crê, pois bem sei que é o que te resta: roubado de tua instância primeira e atrelado às parelhas do utilitarismo, só podes, na maior auto-humilhação, te ajoelhar ao nada! Pois crê e te agarra a esperança, ópio dos ópios.
Findo aqui, escarrando no maior assassino que a humanidade já conheceu: o nacionalismo! Sem mais!
Vê: se não te convenço, te cai em dúvida e, ainda que hoje durmas bem, no cerco aconchegante do teu cotidiano, há de ficar, como uma fresta irônica, a pergunta já sublimada: será que vivo? Dorme, meu bom leitor, enquanto me entrego, com a consciência cristalina, ao prazer: aiesthésis existencial...

bubi alles \ 04

8 comentários:

Samantha Abreu disse...

Bubi...
esse texto foi, no mínimo, inspirador!
persuasivo, inteligente e sarcástico!
ah, na verdade... cheio de adjetivos bobos!

Beijo

cintilante disse...

Muito bom!
como diz o comentário acima, inspirador!!
:)
beijos!

Anônimo disse...

MTO ÓTIMO!
Com certeza a melhor coisa q li nos últimos 5 anos.....

Anônimo disse...

Adorei, tudo que entendi,e amei o que continuo tentando compreender... bjs

Anônimo disse...

ócio

s

idade

?

o cio
s
i
d
a
d
e ...

... hum!

Anônimo disse...

ócio

s

idade

?

o cio
s
i
d
a
d
e ...

... hum!

Rita Louzeiro disse...

Ótima leitura, instigante.

Abraço.

Anônimo disse...

Delícia de texto. Também tenho gosto pelo meu tempo ganho comigo mesmo! yes, quality time!!