terça-feira, novembro 09, 2010

A ÉTICA DO MARAVILHOSO

A VIDA COMO ATO EXTASIANTE


Existem somente dois problemas fundamentais: as relações de capital e trabalho(1) e a dimensão da finitude, as quais se imbricam na questão maior da existência: a liberdade! Ambas são determinantes em nossos atos. Decidir é o q podemos em termos de liberdade. Ser ético vai por ai. Se decidir por uma existencialidade para além, duplo senso, da objetificação: não tem preço! Literalmente!

Do que falo é do maravilhamento. Falo do êxtase e da caris(2). Não tem caminho, receita ou ritual, mas tem o tempo-ócio(3) (scolé): é preciso ter. E deixar as tramas da dita objetividade de lado. Ali onde a razão perdeu as botas começa o encantamento..Pouco importa se a via é lúdica ou sôfrega : não tem moral la’ onde brotamos. Nem como/onde nos extasiamos.

Remar sem remo pode assustar os que estão aconchegados no paredão da lógica. Ou a certas estruturas que tendem a um discernimento pomposamente “clarificante”. Ter o non sense como “sentido” é irônico: faz parte do brincar.

Não falo de luzes, nem de trevas. Binômio histórico de cansado agonismo .

Tanto se pagou por esta luta vã de duvidosos “resultados”. (Se desta não escapamos ,digo, da tensão dual agonística, que se aplique outro chassi). Para mim é mera “formalidade” (formatação) que reduz a existência a uma pobreza bidimesional. Nem tudo é culpa de Parmênides.

Fluímos e conhecer o q disto decorre é perceber o que há de mais intrinsecamente humano. (Deveria perder um tempo para falar que a fluidez é pharmakon(4): A dose é tudo. Mas antes , no campo mais ralo da psicologia, fluir é terapêutic ameniza. O que ? o desconforto de um exato vazio. É bom não confundir a insaciabilidade –mestra condutora- com este exato vazio! O vazio é isolante ,em geral, produto de desconexão(5)).

Fluir é topografia, grosso modo, da não racionalidade. É desta fluidez , deste (sic!) nosso “brotamento” é que podemos nos extasiar. Pouco importa (o modo) se pueril, profano, “superior” ou sacro: O escambau! Hierarquia e valores cessam.

Isolado em torres de marfim o êxtase foi ”confinado” à alguns: santos, poetas, místicos pagãos, apaixonados etc. e tolerado dentro destes limites.Fora dos quais rechaçado como demens(6).

Buscar/trazer para cotidiano é antes uma forma de atacar o binômio insatisfação/consumo: a jóia da coroa do capital. No mínimo uma forma raquítica de subversão. Ou um desalinhamento para com o que está posto .Pouco importa: não falo de vantagens.Nem de táticas. É ter no admiratio, incluso, das instâncias comezinhas(7)- tão próprias do dia-a-dia - a potência de êxtase. Mas mais: o êxtase - camufla nossa finitude nos dando a miragem do eterno. E no eterno cronos inexiste. Ironia das ironias: é na mais tacanha (ou massacrante) mensuração de tempo - o cotidiano - (e, portanto, no maior “ordenador/limitador” da nossa liberdade) que podemos - temos potência para - encontrar nossa maior liberdade e decidir viver extasiaticamente!! Ou quase...

1 Seria tedioso descrever o aparato legal/estatal q vige em função desta relação.

2 Encanto.

3 O tempo pre’ pago é condição sine qua non do ócio: o marxismo resolve.!!

4Vários são os modos: os de si para si ,de si para o meio, de si para atividade , de si para com o outro.. etc etc

5 É preciso pesquisar: demens é tido como “fraqueza/queda“ racional sempre no aspecto negativado.

6 Esta palavra carrega ,também, o sentido de ad-mirar: mudar o olhar.

Nenhum comentário: